quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sobre Brasília...


Já morava em Brasília quando certa vez ouvi a frase “Brasília é uma prisão ao ar livre!" Pensei um pouco e aquilo não fez muito sentido pra mim (fora o sentido real da frase, claro!). Hoje me dei conta de que tipo de prisão essa frase me toca... Estar em Brasília é viver constantemente em uma liberdade assustadora, mas os sentimentos, esses sim estão presos, calados, guardados e até esquecidos. Quando chega-se aqui é quase palpável esse despir de sensações... felicidade, amor, saudade... tudo fica guardado em segurança para ser devolvido quando você conseguir (decidir ) ir embora, quase como uma caixa de Pandora, mas que você não ousa abrir...
Os rostos, as vozes e os momentos vão desaparecendo da sua memória imperceptivelmente e quando você se dá conta o seu coração desacelerou de uma forma extraordinária... São cores diferentes, ritmos diferentes, sons diferentes... você ouve até a sua própria voz! Tudo em câmera lenta...

Lembro que da última vez que voltei pra João Pessoa, quando vi, ainda do céu, tantas luzes brilhando eu senti meu coração acelerar muito, eu mal podia esperar para ver tudo! Os lugares, as pessoas... tudo! Eu as queria todas de uma vez, como se elas acabassem de surgir na minha mente e eu nunca tivesse sentido uma necessidade tão grande de (re)conhecê-las. Na verdade, era como se elas nunca tivessem existido de verdade. Eram personagens de um livro qualquer e eu estava prestes a entrar na história e representar o papel principal.
Quando finalmente coloquei os pés no chão, Brasília estava distante de uma forma tão grande que eu poderia afirmar que tudo não havia passado de um sonho estranho...

Agora estou de volta à minha prisão e ainda não consigo respirar ao ar livre. Embora prisioneira de mim mesma tudo transcorre na mais perfeita liberdade. Voltam as cores, as luzes... tudo com aquele certo ar de novidade.
Eu volto ao meu papel, não mais protagonista, mas figurante, compondo uma grande cena onde também me chamo Andréa, mas isso não faz o menor sentido, aqui eu poderia ser o quisesse, quem quisesse e ainda assim não seria...
Agora que estou aqui, todo o resto da minha vida também parece distante de uma forma tão grande que eu poderia afirmar que tudo não passou de outro sonho estranho...

Algumas vezes eu estou nos cenários de uma forma tão comum que chego a pensar se não sou mesmo personagem de um filme, um pouco Mônica, um pouco Bia, um pouco Clarisse... mas nada disso me incomoda realmente, aqui nada me incomoda realmente. Eu caminho sobre uma fina camada de gelo e a única coisa que me move é a certeza de que se eu parar o gelo quebra...e eu me afogo...

Faltou dizer que essa ausência de realidade fora de mim não é negativa, muito menos a ausência temporária desses sentimentos...
Eu ando começando a entender a vida em câmera lenta, a gostar das cores do cerrado... eu ando aprendendo a amar platonicamente... eu ando me brasiliando... (kkk)

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